por Douglas Lopes | Diretor da Rede Abrigo

Nos últimos anos o termo família foi bastante ouvido nos debates ideológicos no país. Sequestrado por uns, através de moralismos e neologismos (como no termo valores familiares, que se alguém puder me explicar o que significa, por favor o faça). E como resposta a esse sequestro indevido, permitido pelo restante da sociedade, é desprezado por outros.

Mas o que torna a família tão importante?

A família, pela constituição é considerada a base da sociedade brasileira, portanto, merece proteção especial do Estado. Isso quer dizer que a sociedade nada mais é que um aglomerado de famílias. Mesmo que hoje você more sozinho, você faz parte de uma família. E é reflexo dela, ou da ausência dela. Apesar de o mundo ideal ser da família como base onipresente da sociedade, e da família ser um direito a toda criança, ainda somos incapazes de garantir que absolutamente todos cresçam em um seio familiar, seja ele qual for. Ou seja, existe um pequeno problema no parágrafo acima que é: todo genitor, pelo simples fato de ter gerado, deve ser considerado família? Se você mora sozinho, e se criou nessa vida sozinho, ainda assim, seus pais biológicos, que você pode nem lembrar o rosto são considerados sua unidade familiar? Só porque te geraram?

Quem te gera é genitor. Família é uma construção social com papéis que podem ser assumidos por qualquer pessoa que de fato desempenhe esse papel. Suas figuras paternas e maternas, que de fato são essenciais como figuras base pra sua formação como ser humano, podem ser desempenhadas por seu pai e mãe, como por seus avôs e avós, tios e tias, padrinhos e madrinhas, e afins. Porém, apesar de entender a família como a menor instituição social presente na sociedade, eu vou ousar questionar esse fato e dizer que a base da sociedade é, na verdade, a Infância. Explico: assim como a família, a infância é onipresente. Todos passamos por ela, e ainda mais, somos reflexos do que foi feito nessa infância conosco. Seja na presença ou ausência de família. Apesar de existirem pessoas que cresceram sem família, não existem pessoas que não passaram pela infância.

Ok, não vou tentar ir contra um conceito tão antigo e bem estabelecido. Porém, se a família é a base da sociedade, então a infância deve ser considerada a unidade básica da família, por que o que é a família do que senão um aglomerado de infâncias? Novas e velhas.

A sociedade hoje é um reflexo da infância de ontem. Logo, a sociedade de amanhã é um reflexo da infância hoje. Como será o Brasil de amanhã então?

A discussão que deveríamos ter na sociedade não é sobre como “Preservar os valores da família brasileira” e sim, como preservar a infância brasileira. Como garantir que a Absoluta Prioridade na garantia de direitos, previstos no artigo 227 da carta Magna Brasileiro seja cumprido e como tirar a criança desse lugar de objeto para o lugar de direito e de destaque na sociedade brasileira que ela merece.

Finalizo esse texto como o Betinho terminou um dos poemas que eu mais amo nessa vida, chamado A Criança é Coisa Séria.

“O fim da criança, é o fim de todos nós. “